sandra aka margarete ~ acknowledgeyourself@gmail.com

Da civilização [Marius e outros nomes]

ou deveremos personalizar mais a coisa e dizer “Das pessoas civilizadas, com tanta coisa dentro”
isso, ou “Da higiene oral da girafa e agora dos leões”


Não é como nos poemas da Sophia. Sabes que não te interessa a não-praticidade de quem nunca sujou as mãos de morte mas evoca versos a torto e a direito.

Aliás, não te interessam uma série de coisas, tal como as denúncias de “que os outros se mascaram mas”. Porém, sempre te causou muita curiosidade a higiene. Como o lavar dos dentes no duche. Nem todos lavam os dentes em público. Directa ou indirectamente. Nem todos deixam a escova à mão. E há que não esquecer a pasta. Lavar os dentes exige alguma logística e nem sequer precisas de saber que existem médicos dentistas para alcançares a limpeza exacta. Pero, que los hay, hay.
Repara, se tiveres cáries, podes viver com elas para sempre para sempre para sempre e ainda assim passear pelas ruas com um sorriso aparentemente inocente. Lembras muitas palavras simples e cantas de boca aberta que os inocentes são culpados de outros crimes. Já no interior da casa, se tentares mergulhar nas camadas menos superficiais, logo a seguir à dentina, vais perceber que os dentes são surdos que nem uma porta. É como encontrar a surdez de quem se oculta no escárnio. A destreza com palavras de leveza e bem-estar recua a montante, bem ao cerne da história. Lá bem para trás do medo de comparecer no que espelha o esmalte.
Na verdade, como se explica a polpa a um indivíduo que vive no refluxo civilizacional?

Vamos falar disto.

Dentre os meus amigos e conhecidos, quem esteja mais ou menos atento, já terá percebido que tenho dado alguns passos para sair do armário.
Ou seja, tanto andei que arranjei coragem para dar a cara: OLÁ, O MEU NOME É SANDRA E SOU PORTADORA DE ENDOMETRIOSE.

Trata-se de uma doença que me tem tomado alguns dos dias… desde os meus 14 anos.
Fui diagnosticada pelo 4º médico a quem me queixei, aos 27 anos (13 anos depois  do início dos sintomas!). Fui operada. E fui ignorante porque não procurei mais informação na altura, pensei que estava curada. Mas não. Tudo voltou. Hoje, às portas de fazer 40 anos, continuo com muitos dias marcados por esta malvada.

Muito há a dizer sobre a vida com endometriose.

Não nos olhem com pena, mas façam-nos um favor: ajudem a passar a palavra.
Porque CHEGA de deixar esta doença passar impune.
CHEGA de ouvir alguns médicos ainda da idade das trevas dizer-nos que é normal ter dores.
Aos que quiserem, e puderem, venham caminhar comigo no dia 13 de Março.

Não sei dizer grandes coisas sobre isto. Deixa-me sem palavras.

Não esqueçam o meu pedido: passem palavra.

Vamos falar disto.
Obrigada.

 

Fico com o meu sonho.

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"vou mostrar-vos um pedaço da minha vida"

Hoje, Sábado, com uma lista enorme de afazeres domésticos e profissionais, vou para a rua usar as horas da minha tarde para me manifestar. Não estou crente de ser a solução para os nossos problemas, mas sei que tenho de o fazer, porque é precisamente *parte* do-que-posso-fazer. Faz parte da nossa voz. E isso não podemos deixar esvair-se.
Todos os dias, faço o-que-tenho-de-fazer.
O-que-tenho-de-fazer consiste numa série de coisas. Dessas coisas que todos  vós também têm-de-fazer. E faz-se. Porque, embora as semanas seguintes ao regresso de férias sejam habitadas de sonhos de “amor e uma cabana”, uma pessoa acaba sempre a saber divertir-se no meio destas invenções das responsabilidades e da vida em sociedade e das liberdades mútuas. Umas vezes melhor, outras vezes pior, mas consegue-se fazer. De resto, é muito complicado para mim, leiga, discutir essas coisas de forma sistematizada. Sei o-que-tenho-de-fazer e, embora não deixe de ser pensante e ter espírito crítico, cumpro com os compromissos que eu aceitei (mesmo que muitos me tenham sido inevitavelmente impostos).
E ando a lidar com tudo o que me têm vindo a tirar – subsídios, reduções de ordenado, aumento de impostos, aumento dos bens de consumo, etc. E sei que sou privilegiada porque, embora vivamos nesta “instabilidade filha da puta”, ainda assim, vamos conseguindo gerir os meses. E vivemos com o fantasma do desemprego pois a parte maior do orçamento familiar trabalha na área mais instável do momento - a construção, e não gosto quando imagino o que será ficarmos assim, de um dia para o outro sem esse rendimento, com um empréstimo de habitação e sem mercado de emprego na área. Mas o pudor impede-me de me queixar. Porque todos os dias vejo necessidades criadas por esta actualidade que me fazem revoltar as vísceras.
E eu já disse que sim, vou sabendo viver com isto. Pior é não ter saúde. Esta frase não é um lugar comum: pior é não ter saúde. O resto faz-se.
MAS, há uma coisa com a qual nunca me vou conformar ou procurar forma de contornar: o fim da democracia.
Desde o célebre desabafo da Manuela Ferreira Leite sobre o desejo da suspensão da democracia por 6 meses “para pôr isto no sítio” que os fascistas sentiram um espaço para se começarem a revelar. E não têm dado tréguas. Ainda a semana passada, ouvimos o Alexandre Soares dos Santos e o Fernando Ulrich fazer declarações que, no cerne da mensagem, nada mais são do que propostas de suspensão da democracia. E, o pior de todos, o presidente da república.
Sei que sou uma pessoa idealista e, por muitos, considerada ingénua, mas não chego ao ponto de acreditar no bem-querer destas pessoas a Portugal. E já nem sequer fico admirada quando oiço este tipo de declarações. Estou convicta das intenções criminosas destas pessoas. Destas e das do resto da Europa. Isto  - o fascismo, está a acontecer, gente!
Já não se trata de custo de vida, mas do custo da vida.
Sou portuguesa, mas também sou canadiana. Amo ambos países. Agora vivo em Portugal, é a minha opção, é o meu desejo. Actualmente, acontecem coisas na minha vida que fazem com que faça sentido que assim seja. Mas não hesitarei em partir.
Para já, vou para a rua dizer que, no que depende de mim, este país continuará a ser uma democracia porque questões económicas e filosóficas que exponham as fragilidades do sistema democrático não servem nem justificam a sua suspensão.
Não, não dou autorização à troika e aos patifes que nos governam para a suspensão da democracia. E vou dizê-lo hoje para a rua, porque faz parte da nossa voz. E deixar esvair-se esse  direito é o derradeiro passo para o fim da vida como a conhecemos hoje.

25 de Abril, sempre
Sempre!

Vamos lá.


(Mantém o equilíbrio.)

Todos os dias digo, sussurrando,
mantém o equilíbrio. Tudo espreita,
tudo assusta, a vida inteira pende-te
de um frágil fio e de uma sorte injusta.
A tua vontade não pode muito.
Não percas pé. Mantém o equilíbrio.

Amalia Bautista, Estou Ausente
Averno

ontem brincámos à alternância, hoje f*d*m-n*s

Depois de amanhã acordamos 
mais perto do inferno
 
"(...) Se os portugueses soubessem como são os Conselhos de Ministros, como todo o trabalho orçamental está bloqueado pelas resistências de ministros e pela espera das decisões da troika, percebiam muito do que é o estado do país. A coisa está tão negra e tão confusa, tão desesperançada, que nem o ministro da propaganda Maduro está com força anímica para inventar mentiras eficazes.(...) 

Por tudo isto, depois de amanhã vamos acordar na antecâmara do Inferno. Pensam que estou a exagerar? Na verdade, nestes dois anos, a realidade tem sido sempre pior do que a minha mais perversa imaginação, porque as coisas são como são, tão simples como isto. E são más. A partir de amanhã, haja convulsão mansa no PSD, ou forte no PS, acabarão por milagre as pontes, túneis e medicamentos gratuitos, que ninguém fará, nem pode fazer, e vai começar o discurso puro e duro da violência social contra quem tem salários minimamente decentes, quem tem emprego no Estado, quem recebe prestações sociais, quem precisa de serviços de saúde, quem quer educar os seus filhos na universidade, quem quer viver uma vida minimamente decente, quem quer suportar uma pequena empresa, quem paga, com todas as dificuldades, a sua renda, o seu empréstimo. 

O que nos vai ser dito, com toda a brutalidade, é que os nossos credores entendem que ainda não estamos suficientemente pobres para o seu critério do que deve ser Portugal. Apenas isto: vocês ganham muito mais do que deviam, não podem ser despedidos à vontade, têm mais saúde e educação do que deveriam ter, trabalham muito menos do que deviam, vivem num paraíso à custa do dinheiro que vos emprestamos e, por isso, se não mudam a bem mudam a mal. Isto será dito pelos mandantes. E isto vai ser repetido pelos mandados da troika, sob a forma de não há 'alternativa' senão fazer o que eles querem. Haver há, mas nunca ninguém as quer discutir, quer quanto à saída do euro, quer quanto à distribuição desigual dos sacrifícios, de modo a deixar em paz os mecânicos de automóveis e as cabeleireiras e olhar para os que se 'esquecem' de declarar milhões de euros, mas isso não se discute". (José Pacheco Pereira no "Público" via João Lisboa via C&L)